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Blurry Heavy Cliché

  A sharp, unbearable, agonising tinnitus inside my brain. Pulsing, burning, and I can not see clearly for it burns my eyes and blur my sight.   Everyone around me is feasting in slow motion.  Am I dying? Am I dead? I feel like hanging over, overtime, time traveler, transported to this open space, so cold. Sharp wind, cuts the flesh upon my cheeks.  What is that smell? Sulfur, released by phytoplankton and seaweed. Salt, of course there’s salt, corroding and dehydrating, mucus, skin, soul... It ain’t dawn, yet the sun’s still shy over the horizon. Some weak ray’s of golden light penetrate the heavy sky. Dark clouds upon our heads, thunder. It’s hard to tell whether it’s thin rain or stormy tide.  I try to balance myself on the breakwater rocks, dizzy by my racing heartbeat and pushed by the wind blows.  I take a look around, feels like time’s stopped, some levitate with fireworks in hand, others hug each other laughing, holding, almost empty, vodka bottles... and you, there’s you, on t

Que dia é hoje?

  Escuto a voz da minha mãe me chamando, lá dentro da cozinha, sempre impaciente. Meus irmãos tramando trapaças a suas costas e ela fingindo não ver, por que cansa, coitada, tenho pena, já não basta os pirralhos agora eu me recusando a ter o destino parecido com o dela e de todas outras mulheres de nossa família. Não quero. Não vou. Nem mesmo com você eu o faria.  Menos ainda com o estranho do teu irmão.  Eu não entendo por que nossas mães, visivelmente infelizes desejam igual infortuna para nós? Talvez não desejam, mas são vencidas por algum tipo de cansaço.  É realmente exaustivo. Antigamente eu me divertia ao me esconder na copa desta árvore enquanto os adultos me chamavam para dentro de casa. Hoje faço por que preciso. Não tenho outro lugar que me faça pensar tão bem quanto aqui.  Esta noite sonhei algo muito sinistro, me vi nua à margem da nascente do rio perto de casa, era noite, porém o firmamento iluminava.  Antes de mergulhar me fitei atentamente no reflexo da água calma. Quan

Para Esquecer

  Como em um sonho, me vejo, sentada na neve fofa, encostada em um tronco grosso do esqueleto de uma árvore gigantesca; névoa fria a minha volta, estou vestida com uma capa de sarja verde musgo e coberta por uma manta grossa que lembra a pele de um animal, feita de um tecido sintético fofo. Tenho um livro aberto e um lobo manso adormecido ao meu lado.  Aos poucos a visão de mim mesma se confunde com a forma física e duas coisas viram uma só. Tento focar no que estou lendo, existem letras, que formam palavras, que formam frases, mas eu não faço a menor ideia do que está escrito, me sinto confusa, mas meu corpo sabe o que está fazendo ali.  O livro é grosso, de uma encadernação impecável, porém gasta. Faço notas com um pedaço de grafite nos espaços em branco, sublinho, pondero. Sobre o que pondero? O que escrevo?  Sinto frio. Fecho o livro por um instante, coloco ao lado em cima de um pano para não molhar, abraço meus joelhos e os aperto contra meu peito. Tento me esquentar. É gostosa a

Ma Mère

Despertei de um sono raso e incômodo, desses que a gente sabe que não está nem bem dormindo, tão pouco desperta. Flutuando em águas escuras, metade do corpo repousando inerte debaixo d’água e a outra metade inconscientemente buscando o ar necessário para todo resto não afundar.  Eu não estive sonhando, estou certa que não, talvez meu corpo anunciava, o prelúdio de algum tipo de cólera prestes à erupção. Seja como for, não havia muito a ser feito. Já estava desperta e inquieta com coisa alguma. Sentei-me na beira da cama, peguei a moringa em cima da mesa de cabeceira, me servi de água fresca e fui calmamente até a cômoda buscar as vestes de verão.  O outono já se anunciava lá fora, mas eu não sinto frio tão facilmente. Prefiro o rigor dos invernos a melancolia enfeitada dos verões! Neve e névoa deixando tudo monocromático, até mesmo os abençoados dias de sol, ainda mais frios que os de chuva, de uma beleza irresistível.  Ainda era madrugada, a escuridão de meu quarto permanecia intocada

Migalhas

 “É triste perceber, como tudo que fica à margem está a mercê das sobras. Das sombras” disse Camille para si mesma, enquanto alimentava com migalhas de pão amanhecido, uma dupla de cães aparvalhados, que lhe fitavam com olhos de dor, de súplica. Tão logo perceberam que não havia mais migalhas tornaram a correr e pular pela praça, provocando um ao outro.  Ela observou a dupla brincar, com um pensamento longe. Tinha de terminar sua dissertação de mestrado e a deadline estava terrivelmente próxima. Mas, Camille estava exausta.  Decidiu dedicar-se à leitura em um banco na praça, ao lado de seu apartamento. Nem isso conseguiu fazer com êxito. Passou mais tempo a fitar os cães do que em se dedicar a leitura.  Algo neles lhe trazia a tona pensamentos aprisionados pelo escapismo nosso de cada dia. Essa vadiagem, essa leveza, a malandragem com a qual conquistaram pedaços de pão. Migalhas, é bem verdade, mas até desse instinto universal por sobrevivência através da alimentação lhe fez pensar.  F

As ideias me fogem à palavra

Ainda ontem, ou qualquer dia desses que se precedeu, estive a recordar um tempo em que viajava. Para se deslocar a um outro continente, é necessário tomar um avião. Como me estressa a ideia de viajar de avião. Toda vez que entrava em um me ocorria ser ali, naquele lugar, o lugar de meu sepultamento iminente. Pudesse, iria de carro de São Paulo à Barcelona. Até mesmo de cavalo. Mas avião é mais viável quando não se pode esperar. Conheço quem possa. Esperar. Essa gente, por vezes vai de barco. Luxuosos navios cujo entretenimento nunca acaba.  Mas eu não sou dos que podem esperar. Ultimamente, nem dos que podem viajar.  Fato está, de que quando piso em uma aeronave, sinto cheiro do último suspiro. E era justamente sobre isso que estava a pensar qualquer dia desses. Como conciliar dois sentimentos mutuamente? O deleite de viajar, de conhecer novos lugares, novos caminhos, novas formas de ser e estar no mundo e o medo irreparável de que a morte no trajeto me impediria de tal transgressão. 

Tempo Oportuno

 “Certamente o sono mais doce é aquele mais profundo, quando estamos como mortos e não sonhamos nada, ao passo que é muito incômodo o sono leve, inquieto, interrompido por cochilos, atravessado por pesadelos e visões, como sói acontecer com os doentes”.  O projeto deste blog não tem data!  De início, meio, ou fim.  É uma tentativa de busca e conhecimento dentro de um tempo de Kairós, sem devorar nossos filhos pela mecânica da produtividade. Não pretendo produzir textos.  Mas pode ser que produza.  Quem sabe, em um tempo oportuno! Cardoso, M.