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Migalhas

 “É triste perceber, como tudo que fica à margem está a mercê das sobras. Das sombras” disse Camille para si mesma, enquanto alimentava com migalhas de pão amanhecido, uma dupla de cães aparvalhados, que lhe fitavam com olhos de dor, de súplica. Tão logo perceberam que não havia mais migalhas tornaram a correr e pular pela praça, provocando um ao outro.  Ela observou a dupla brincar, com um pensamento longe. Tinha de terminar sua dissertação de mestrado e a deadline estava terrivelmente próxima. Mas, Camille estava exausta.  Decidiu dedicar-se à leitura em um banco na praça, ao lado de seu apartamento. Nem isso conseguiu fazer com êxito. Passou mais tempo a fitar os cães do que em se dedicar a leitura.  Algo neles lhe trazia a tona pensamentos aprisionados pelo escapismo nosso de cada dia. Essa vadiagem, essa leveza, a malandragem com a qual conquistaram pedaços de pão. Migalhas, é bem verdade, mas até desse instinto universal por sobrevivência através da alimentação lhe fez pensar.  F

As ideias me fogem à palavra

Ainda ontem, ou qualquer dia desses que se precedeu, estive a recordar um tempo em que viajava. Para se deslocar a um outro continente, é necessário tomar um avião. Como me estressa a ideia de viajar de avião. Toda vez que entrava em um me ocorria ser ali, naquele lugar, o lugar de meu sepultamento iminente. Pudesse, iria de carro de São Paulo à Barcelona. Até mesmo de cavalo. Mas avião é mais viável quando não se pode esperar. Conheço quem possa. Esperar. Essa gente, por vezes vai de barco. Luxuosos navios cujo entretenimento nunca acaba.  Mas eu não sou dos que podem esperar. Ultimamente, nem dos que podem viajar.  Fato está, de que quando piso em uma aeronave, sinto cheiro do último suspiro. E era justamente sobre isso que estava a pensar qualquer dia desses. Como conciliar dois sentimentos mutuamente? O deleite de viajar, de conhecer novos lugares, novos caminhos, novas formas de ser e estar no mundo e o medo irreparável de que a morte no trajeto me impediria de tal transgressão. 

Tempo Oportuno

 “Certamente o sono mais doce é aquele mais profundo, quando estamos como mortos e não sonhamos nada, ao passo que é muito incômodo o sono leve, inquieto, interrompido por cochilos, atravessado por pesadelos e visões, como sói acontecer com os doentes”.  O projeto deste blog não tem data!  De início, meio, ou fim.  É uma tentativa de busca e conhecimento dentro de um tempo de Kairós, sem devorar nossos filhos pela mecânica da produtividade. Não pretendo produzir textos.  Mas pode ser que produza.  Quem sabe, em um tempo oportuno! Cardoso, M.