Que dia é hoje?
Escuto a voz da minha mãe ecoando da cozinha, cortando o ar com sua impaciência habitual. Ela sempre grita, como se sua voz pudesse controlar o caos que impera nesta casa. Meus irmãos, sempre agitados, tramam suas trapaças às costas dela, fingindo não serem notados. Mas minha mãe, exausta, prefere não ver. O cansaço a venceu há muito tempo, e às vezes me pego sentindo pena dela. Coitada. Carrega a faina de sustentar uma família enquanto assiste seus sonhos se dissolverem, repetindo o destino de tantas outras mulheres da nossa linhagem. Eu não. Não aceito esse fardo que elas carregam, esse destino herdado de servir e calar. Não quero, não vou me dobrar às mesmas correntes invisíveis que aprisionaram minha mãe e as outras antes dela. Nem mesmo por você. E menos ainda por teu irmão, que carrega a arrogância de quem acha que o mundo lhe deve algo. Eu me pergunto, e cada vez com mais frequência: por que nossas mães, visivelmente infelizes, parecem desejar para nós o mesmo infortúnio? T...